domingo, dezembro 04, 2011
deixou-me com tudo nas mãos: calores e cóleras, colares e cerolas. sobras de tudo um pouco. hábitos de quem se esquiva e prefere dar-se, não como um todo, mas em partes.
segunda-feira, fevereiro 07, 2011
estanque
é tal como se encontra a situação vigente: ocaso, falência dos órgãos, dos canais adutores, das membranas fibrilosas, impedindo-me o movimento, a coordenação motora. é sombra de vozes, aperitivo de fim de mesa: é estanque, paradeiro, paradice, interdição: é estanque - sem alma, sem ritmo, sem coração. é política de economia, é o voltar-se a si mesmo em quebradiças tentativas. é dar-se ao acaso, porque os planos se foram e restaram estanque; por um instante, achei que perdera o senso, mas a censura é minha e desanda. não há estanque: a vida segue, cotidiana.
terça-feira, novembro 16, 2010
O retorno da vida
quem vir uma vida minha a passeio, que a peça, por gentileza, para retornar de onde veio.
quinta-feira, outubro 07, 2010
sobre pertinência e ideia de viver intermitente
é. faz tempo não venho aqui. faz tempo não sei dizer como anda minha vida. ontem tive uma crise no meio de minha sessão de terapia. chorei muito. a carmen talvez jamais me tivesse visto assim; pude perceber que a surpreendi, ainda que me tentasse esconder através de seu ar muito elegante (desses que tentam não deixar trespassar sentimentos). talvez por não ser mais o garotinho que entrou em sua sala aos 20 anos pela primeira vez, querendo mostrar uma fortaleza que a ele não cabia. agora, aos 26, no mesmo lugar, com os mesmos dramas. pra quem se disse tão incontestavelmente apaixonado por tudo o que não estava, parece uma mentira. e foi isso que fez ver em mim naquele instante: que tudo, absolutamente tudo pelo que havia passado não passava de uma grande encenação pública, um ato penoso de martírio. 'eu tenho vontade de ir à faculdade, conversar com meus professores, perguntar-lhes que fazer. mas já acho que eles não acreditarão mais em mim. penso quanto disso é uma verdade. já não creio mais em nenhuma minha atitude. parece uma eterna armadilha. já não me consigo levar a sério em minhas propostas. penso: lá vai o homem das mil ideias irrealizadas. estou vivendo um momento de constante incredulidade em mim'.
reparo que muitos querem viver. tornou-se um tanto constante nos discursos de hoje e, confesso, até mesmo cliché dizer que se está em busca de viver: separou-se pra isso, viajou pra isso, mudou de vida pra isso - viver. que seria viver? já não se vive, ainda que se mal queira? olharei pela janela agora, às 18:19 e verei um mundo de vidas.
não.
o que as pessoas buscam não é vida. viver é o que faz minha mãe, que toma por suas as responsabilidades que lhe traz o dia. minha mãe sabe viver: molda-se, adequa-se ao meio em que está. sabe o que fazer com o que tem e, por esta razão, caminha à frente como que quase não percebesse. o que as pessoas querem não é viver: é romper. marcar cisão profunda em seu cotidiano. abanonar o barco e ir ter em outro lugar, com o desconhecido; mas não porque aquilo faça parte de sua vida, talvez única e irrisoriamente pelo motivo de quebrar paradigmas. o que acho que as pessoas não entendem é que viver é atravessar a barreira do complexo sistêmico que nos encerra. é abraçar a realidade ao redor e fazer dela seu cotidiano, até que se irrompa um novo caminho de incertezas. os que aí estão a reclamar da vida, dizendo que viver não é o que têm, não passam de meros inapreciadores do instante, desertores do natural acaso, ineptos a lidar com qualquer circunstância que difira do tão idealizado sonho.
sim, não sei viver. não aprendi a tornar meu o mundo que vivo. por isso, tudo parece um grande embuste: porque eu não estou, porque eu não pertenço ao mundo em que vivo.
reparo que muitos querem viver. tornou-se um tanto constante nos discursos de hoje e, confesso, até mesmo cliché dizer que se está em busca de viver: separou-se pra isso, viajou pra isso, mudou de vida pra isso - viver. que seria viver? já não se vive, ainda que se mal queira? olharei pela janela agora, às 18:19 e verei um mundo de vidas.
não.
o que as pessoas buscam não é vida. viver é o que faz minha mãe, que toma por suas as responsabilidades que lhe traz o dia. minha mãe sabe viver: molda-se, adequa-se ao meio em que está. sabe o que fazer com o que tem e, por esta razão, caminha à frente como que quase não percebesse. o que as pessoas querem não é viver: é romper. marcar cisão profunda em seu cotidiano. abanonar o barco e ir ter em outro lugar, com o desconhecido; mas não porque aquilo faça parte de sua vida, talvez única e irrisoriamente pelo motivo de quebrar paradigmas. o que acho que as pessoas não entendem é que viver é atravessar a barreira do complexo sistêmico que nos encerra. é abraçar a realidade ao redor e fazer dela seu cotidiano, até que se irrompa um novo caminho de incertezas. os que aí estão a reclamar da vida, dizendo que viver não é o que têm, não passam de meros inapreciadores do instante, desertores do natural acaso, ineptos a lidar com qualquer circunstância que difira do tão idealizado sonho.
sim, não sei viver. não aprendi a tornar meu o mundo que vivo. por isso, tudo parece um grande embuste: porque eu não estou, porque eu não pertenço ao mundo em que vivo.
terça-feira, setembro 07, 2010
poema insóbrio
todo mundo fala do mundo.
cláudia é muda e fala do mundo por gestos mudos.
pedro vive de reclamar que o mundo não muda
mas ele mesmo não quer mudar
e fica em cima do muro,
nem pra lá,
nem pra cá.
ninguém sabe rumar,
ir além do prumo,
ninguém sabe enviesar.
sabe só seguir caminho reto.
arrumo o quarto quieto,
sem rimar,
mas rimo
porque não há rumo certo
pruma poesia:
ela simplesmente existe,
ela simplesmente está.
cláudia é muda e fala do mundo por gestos mudos.
pedro vive de reclamar que o mundo não muda
mas ele mesmo não quer mudar
e fica em cima do muro,
nem pra lá,
nem pra cá.
ninguém sabe rumar,
ir além do prumo,
ninguém sabe enviesar.
sabe só seguir caminho reto.
arrumo o quarto quieto,
sem rimar,
mas rimo
porque não há rumo certo
pruma poesia:
ela simplesmente existe,
ela simplesmente está.
domingo, agosto 29, 2010
Ausência
nunca ofereci resistência ao mundo. até onde sei, fui aberto desde princípio, talvez do momento em que me rompi e vim dar como existente. jamais protelei ausências porque davam-me como sentidas e achei que senti-las deveria, de mim, fazer parte. por isso, deixei que entrassem. hoje, no entanto, vejo que lhes deixei por demais o caminho livre. muitas asências agora caminham, quase que diárias, à minha casa: deixo-lhas entrar como filhas desgarradas, partidas dum algum lugar. porque tenho pena de uma ausência e quero lhe fazer companhia. porque eu sei a dor de uma ausência e não lha quero deixar só: por isso, abrigo, comporto em mim todas as ausências.
domingo, julho 04, 2010
ausência poética
um dia hei de gritar bem forte
pela poesia que me deixou cá,
a ver navios
e acenar
solitário:
céu vazio azul e mar...
a poesia nem sabe que o mundo está repleto
de histórias pra contar;
a poesia nem sabe do amor
que tenho pra dar.
a poesia só me quer deixar só
porque precisa,
porque é preciso me isolar.
mas um dia,
ela volta
num desses navios que vêm ao porto
e que procuram ancorar,
e há de vir
atenta,
ansiosa,
e desembarcará em mim
toda a sua vontade de estar.
pela poesia que me deixou cá,
a ver navios
e acenar
solitário:
céu vazio azul e mar...
a poesia nem sabe que o mundo está repleto
de histórias pra contar;
a poesia nem sabe do amor
que tenho pra dar.
a poesia só me quer deixar só
porque precisa,
porque é preciso me isolar.
mas um dia,
ela volta
num desses navios que vêm ao porto
e que procuram ancorar,
e há de vir
atenta,
ansiosa,
e desembarcará em mim
toda a sua vontade de estar.